por Myrna Silveira Brandão, de Nova York
Além de uma programação extensa que inclui filmes premiados em Sundance, Berlim e Cannes, várias premières mundiais e destaques em documentários, o Festival de Nova York traz, em sua mostra Revivals, clássicos de várias cinematografias recentemente restaurados.
Um dos destaques do último final de semana foi o melodrama Insiang (1976), do diretor filipino Lino Brocka (1939-1991).
O filme segue Insiang, a personagem que dá título ao filme (Hilda Koronel), que vive com sua mãe Tonia (Monalisa) e vários parentes numa favela à beira-mar de uma grande cidade filipina sem nome.
Depois de uma briga, Tonia expulsa os parentes de sua casa e permite que seu amante, muito mais jovem, o violento Dado (Ruel Vernal), se mude para lá.
O filme atinge seu ápice dramático quando Insiang é estuprada por Dado, é acusada de ter provocado o fato e expulsa de casa. A partir daí, Koronel consegue fazer a transição de uma menina ingênua para uma femme fatale crível e que conta com a simpatia dos espectadores no seu cruel plano de vingança.
A história se desdobra lentamente e, na primeira meia hora do filme, exige paciência dos espectadores.
Quando o filme foi lançado em 1976, o diretor disse em entrevistas que, através da jovem, quis falar da violência, da aniquilação do ser humano e da perda de dignidade causada pelo ambiente físico e social.
Os personagens no cinema de Brocka vivem sempre em circunstâncias difíceis e com os sentimentos à flor da pele.
O filme foi um fracasso nas Filipinas, mas foi o primeiro título do país a ser convidado para Cannes e é um dos melhores filmes do diretor.
Insiang foi lindamente restaurado em 2015 pela Cineteca di Bologna L’Imaggine Ritrovata e pelo Conselho de Desenvolvimento de Filmes das Filipinas, com o apoio da Film Foundation, criada em 1990 por Martin Scorsese para ajudar a salvar e preservar filmes em parceria com arquivos e estúdios de várias partes do mundo.