por Myrna Silveira Brandão
Trinta clássicos em tecnicolor – alguns deles recém-restaurados – serão apresentados na tradicional Retrospectiva do Festival de Berlim (05 a 15.02.15) que promete ser um grande espetáculo a cores.
A 65ª edição do evento celebrará o 100º aniversário do início da criação da “Cor por Tecnicolor”, um processo que se transformou numa lenda para muito além de Hollywood.
Ao fazer o anúncio, Dieter Kosslick, diretor da Berlinale, destacou a importância dessa retrospectiva.
“O vermelho em brasa dos céus sulistas de E o Vento Levou ou o amarelo brilhante das capas de Cantando na Chuva eram cores dramaticamente intensas e, naqueles dias, foram uma sensação. O processo do tecnicolor combinava com as tendências culturais e econômicas da época para produzir grandes obras da arte cinematográfica e que ainda eletrizam as audiências hoje”, lembrou Kosslick.
Rainer Rother, Diretor Artístico da Cinemateca Alemã, também expressou seu entusiasmo com a realização da Mostra.
“Graças à cooperação com a George Eastman House em Rochester, seremos capazes de apresentar cópias de algumas das maiores e mais bem preservadas coleções de filmes em tecnicolor, um grande número deles em versões restauradas”, ressaltou Rother, responsável pela curadoria da Retrospectiva.
Para documentar o valor e a importância da iniciativa será editado um livro ricamente ilustrado – “Glorious Technicolor” – com ensaios de renomados autores sobre o tema.
Nova técnica foi sendo aperfeiçoada por décadas
O Tecnicolor número I foi desenvolvido em 1915 por Herbert T. Kalmus, Daniel Comstock e W. Burton Wescott na Companhia que eles fundaram: a Technicolor Motion Picture Corporation.
Mas o sistema – que utilizava um divisor de feixe de luz e filtros vermelhos e verdes para registrar e projetar o filme – era ainda limitado e foi recebido com reservas por espectadores e críticos.
Esse ceticismo, aliado aos níveis de exigência de Kalmus e sua equipe, os motivou a realizar melhoramentos no sistema nos anos e décadas seguintes. O Tecnicolor IV já apresentava um nível de qualidade que deu brilho ao sistema e, pela primeira vez, todo o espetro de cores pode ser reproduzido.
O Tecnicolor se firmou especialmente em melodramas, musicais e filmes de aventura e os exemplos – que serão mostrados na Retrospectiva – são muitos: Os Três Mosqueteiros, de George Sidney (EUA, 1948), em que jovens lutam num ambiente rosa e azul claro num set inteiramente estilizado e artificial; O Mágico de Oz, de Victor Fleming (EUA, 1939), no qual a cor foi usada com tanta intensidade que os atores, nos seus trajes criativos, pareciam quase como se estivessem num desenho animado; e em Os Homens Preferem as Loiras, de Howard Hawks (EUA, 1953), Marilyn Monroe está num irresistível vestido rosa contra um rico fundo vermelho, cantando “Diamonds are a Girl’s Best Friend”.
Serão também apresentados os impressionantes panoramas que caracterizam os faroestes em tecnicolor como poderá ser visto em Duelo ao Sol, de King Vidor (EUA, 1946), com o vermelho incandescente do sol do deserto; e em Legião Invencível, de John Ford (EUA, 1949), com o belíssimo cenário do Monument Valley e suas tonalidades terrosas.